Jovem, bonita, vibrante, alegre e livre.
Quando o conheci estava ali, crescendo e aparecendo.
Me dizia que eu era tudo o que ele admirava.
Mulher sim senhor, guerreira forte, filha de Maria Bonita.
Mulher do cangaço, da lavoura, com seu facão na mão como arma.
E sem perceber, me deixei levar naquelas palavras motivadoras.
Eu, alguém especial para outro alguém.
Me motivou, fiquei mais forte, destemida, altruísta.
Com ele passei a pelejar melhor e em seus braços descobri o prazer.
Me sentia Anita com seu Garibaldi.
E em cada luta que ganhava, mais o amor ia crescendo.
Ele me queria muito, passou a me aconselhar como ser melhor, mais forte e valente.
Com ele, pude aprender muito, o que o sertão não me ensinou.
Éramos criativos e inovadores, tínhamos um amor único, que ninguém jamais viveria.
Éramos sinceros, não havia mentiras entre nós.
Éramos o par perfeito, Bonnie & Clyde em uma grande aventura.
Totalmente apaixonada, jurei o tão sonhado amor eterno.
Que lindo!
Coração preenchido de amor, desejo e felicidade.
Enlaçamos nossas vidas para o então sonhado final feliz.
Em quatro paredes, montamos um castelo.
Eu princesa e ele o meu príncipe encantado.
Ele todos os dia me aconselhava a melhorar, segundo o seu olhar.
Passou a me preservar, para que eu não me expor demais.
Ficava na minha frente para me defender dos perigos.
E sem perceber, deixei ele tomar a frente da minha vida.
Já não vivia sem os seus conselhos, já não falava ou aparecia, para não me expor.
Aos poucos o tom de voz dele foi mudando, claro que ele sabia melhor sobre a vida do que eu.
Muitas vezes falava alto e ríspido para eu poder entender.
Como me amava muito, ele cuidava de mim em tudo, só por proteção.
Eu era sua Helena de Tróia e ele meu salvador, o guerreiro Páris.
Não tinha como ser melhor… alguém que só pensa no meu bem.
Passou a sair e trabalhar sem mim, o que seria de um castelo sem sua rainha?
Ele como bom guardião, trazia tudo o que eu precisava, não me faltava nada.
E só para me educar a ser melhor, passou a mentir.
Dormia com qualquer uma para aprender mais e me ensinar.
Gritava comigo e reclamava de tudo, só para eu me melhorar.
Me fazia chorar diariamente para eu poder amadurecer.
Me humilhava perante os amigos, colegas de trabalho, vizinhos, para me ajudar a lidar com as dificuldades.
Esfregava na minha cara suas amantes, para que eu pudesse ter inspirações.
Até o momento que me bateu.
E disse que era porque me amava.
Foi então que percebi quem eu me tornara, somente Amélia.
"Santa na frente da sociedade e uma puta na cama", será?
Passou a me deixar cada vez mais sozinha, para eu poder lidar com a solidão.
Me deixou abortar sozinha para eu poder lidar com o vazio no peito e no ventre.
Me xingava, para eu poder evoluir como pessoa.
Dizia que eu não era e nem seria nada sem ele, para me ensinar o quanto ele era importante na minha vida.
Mostrava que era o detentor do capital da família, para me ensinar a economizar.
Foi então que depois de uma briga por conta das suas amantes, e mais uma humilhação, pude ver o que o doce sertão não me ensinou, ser seca.
Decidi deixar de ser rainha para ser Maria da Penha.
E andei até onde o amor distorcido dele não pudesse chegar.
Foi então que ele me ensinou a melhor lição...
Simone de Beauvoir, independente, altruísta, livre e feliz sem depender de mais ninguém.
E graças a ele, aprendi a ser mulher!
Cristina P.
Lukas Werneck